Histórias de Moradores de Niterói

Esta página em parceria com o Museu da Pessoa é dedicada a compartilhar histórias e depoimentos dos Moradores da cidade.


História da Moradora: Fernanda Oliva Pais de Moura
Local: Rio de Janeiro
Publicado em: 11/08/2003

Tema: Morro de Prazeres

História:

IDENTIFICAÇÃO


Eu me chamo Fernanda Oliva Paz de Moura. Nasci no dia 28 de agosto de 1973, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Eu não moro mais com meus pais, eu já fui casada e atualmente sou divorciada. Eu me sustento. Não dependo de ninguém. Nunca me faltou nada, mas sempre correndo atrás, sempre com tudo contadinho.

FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Acabei de me formar tem 10 dias recebi minha colação de grau, me formei em Licenciatura em Artes Cênicas. Então, atualmente eu sou professora de Artes Cênicas. Já abandonei uma outra faculdade que era de Fisioterapia, que não tem nada a ver com as minhas vontades.

Eu me dava melhor no estágio de Fisioterapia, na relação que eu tinha com os idosos, do que praticamente com o prazer de estar realizando a profissão. Era mais pessoal a relações do que profissional.Abandonei a Fisioterapia, e me dediquei às Artes Cênicas. Sou formada também pela Escola de Teatro Martins Pena, como atriz e fiz Licenciatura pela UNIRIO, lá na Urca. Trabalho também com eventos, trabalho como modelo, trabalho em comerciais, a única coisa atualmente que consegue me bancar financeiramente. Atualmente eu trabalho como atriz, estou na peça “Lição de Anatomia” que estava em cartaz no Teatro Glória e na semana que vem vai para o Teatro Municipal de Niterói.

SANTA TERESA

Minha vida basicamente aconteceu em Niterói. Cresci em Niterói, mas sempre visitei muito Santa Teresa. E sempre achava o bairro muito aconchegante, muito cultural. Sempre encontrei vários amigos nas vezes que eu visitei Santa Teresa e ficou sempre na minha cabeça: “Um dia eu vou morar em Santa Teresa.” Era um projeto de vida. Eu vim morar em Santa Teresa já faz um ano, e assim que eu mudei, no primeiro mês eu falei: “Eu preciso dar aula de teatro em Santa Teresa. Eu quero trabalhar com crianças carentes.” E aí comecei a procurar espaços. E fui no Laurinda e encontrei um cartaz: “Você tem uma idéia e quer montar um negócio? Nos procure”.Eu falei “Quero. Se eu vim aqui pra dar aula.” Fui procurar o espaço, era o espaço Iniciativa Jovem, que se localiza no Largo das Neves, também em Santa Teresa.

Me inscrevi num projeto que falava: “Qual é a sua idéia?” Eu fui curiosamente no dia das palestras, e cada dia que a gente participava do workshop, eu participava da oficina de idéias, e aí eu ia escrevendo coisas que eu nem planejava. Sentava ali, e com aquela discussão, aquele bate-papo, eu acabei optando por realmente oferecer oficina de arte pras comunidades carentes. O projeto “Iniciativa Jovem” é um projeto que ajuda jovens a elaborar um negócio. Então você pode montar um restaurante, uma lavanderia...Enfim, optar por um negócio. Eu optei pelo meu negócio que é “dar aula”, e como eu tinha uma vontade pessoal de “trabalhar com comunidades”, eu elaborei o plano em cima dessa minha vontade.

MORRO DOS PRAZERES

Não sei porque o Morro tem esse nome, mas eu tenho uma história muito particular minha de Prazeres. Quando eu me formei, a minha tese foi a seguinte: “O Jogo e o Prazer no Processo de Aprendizagem” Porque eu sempre acreditei, sempre numa experiência de vida, que toda vez que eu aprendia alguma coisa na escola, onde tinha que decorar, memorizar, eu não aprendia. Mas quando eu aprendia brincando, ou quando eu tinha um professor engraçado, aprendia mesmo. Eu lembro que eu tinha um professor de Biologia que ele interpretava uma ameba, um protozoário Enfim, tudo o que ele me falou eu guardei, e na hora de fazer o vestibular, me valeu. Então, quando você assimila com prazer, você não esquece. A minha tese era: “O Jogo e o Prazer no Processo de Aprendizagem. ‘ E assim que eu mudei, vim pra cá – Morro dos Prazeres, falei: “Vou continuar com esse nome que tem tudo a ver comigo. Aprender através do prazer.”

Então, as oficinas de arte tem até uma base educacional que é essa. Teatro,circo e grafite, ou música ou dança sempre subsidiado atrás de uma parte educacional de incentivo à leitura, de relacionamento, de valores humanos. Saber conversar, saber respeitar o próximo. Muito mais do que formar artistas, formar pessoas com horizontes mais amplos. Ai assim Morro dos Prazeres . Eu falei: “Não vou nem mudar o nome do projeto.” Morro dos Prazeres. Eu costumo falar Morro “de” Prazeres. Se alguém tiver que morrer aqui, vai sentir prazer. Agora, dá pra imaginar pela vista, que é maravilhosa. A vista do Morro dos Prazeres é invejável. Acho que nenhum morador de classe A, que mora no Teresa, tem essa vista invejável do Morro dos Prazeres. Acredito que seja por isso, que esse morro se chama assim.

CASARÃO DOS PRAZERES

Então, eu vou contar como eu vim parar no Casarão. No dia em que eu estive no Laurinda e depois que eu havia me inscrito no Iniciativa Jovem, uma pessoa falou pra mim : “Existe um espaço no Morro dos Prazeres que se chama Casarão. Foi reformado. Era um casarão abandonado.” Quando eu cheguei aqui, não esperava a dimensão do Casarão, e no mesmo dia eu fui à Associação de Moradores que é a ASSAMP, conheci o Flavio, a Cris, a Elisa. Eles foram super receptivos. Aqui no Casarão foi uma recepção de Portas Abertas mesmo. Eu falei: “Olha, eu preciso de um espaço pra poder realizar o meu projeto. O meu projeto é sem fins lucrativos, e o ideal é que eu tenha um espaço para oferecer as oficinas, podendo ser no Casarão ou em algum espaço da Associação dos Moradores, de acordo com o que queiram oferecer”.

E aí eu conversei sobre o Casarão, Teria que ter uma autorização da Prefeitura, eu consegui, e coloquei no meu plano de negócios no Iniciativa Jovem, que o espaço seria cedido pela Prefeitura. E então economizaria a parte financeira de ter que ter um espaço. Então, a parceria com a Prefeitura foi excelente nesse sentido, e eu espero que continue dando frutos, não só aqui nos Prazeres, mas se possível até em outras comunidades. Mas, enfim, agora a minha semente é aqui nos Prazeres. A primeira vez que eu estive no Casarão não havia nenhum tipo de oficina. O Casarão é concorridíssimo. Isso foi acho que em agosto ou setembro do ano passado e havia poucas oficinas ainda, só duas oficinas da Prefeitura. Aí a diretora e a própria Bernadete, hoje é a atual diretora, adoraram a idéia e falaram que estariam prontas a ceder o espaço, porque realmente o espaço foi feito pra isso. Meu Plano de Negócio Aí eu elaborei o plano de negócio, buscando sempre parcerias e assim não esperava, mas recebi o premio de primeiro lugar que foi assim uma benção, principalmente pra parte de assessoria de imprensa, e pela parte financeira. Eu recebi o premio Iniciativa Jovem, da Shell.

É o premio da Shell que eles oferecem para jovens até 30 anos que queiram montar seu negócio. E pela primeira vez foi implantado no Brasil esse projeto, e em Santa Teresa, e no ano que eu mudei para cá. E no mês seguinte que eu fui e achei o cartaz que parece que foi colocado no meu caminho. Enfim, aí eu recebi o projeto, e recebi o premio e falei: “Bem, agora eu tenho que botar um negócio”.Eu não percebi a dimensão de como esse premio me fez...Eu teria que me dedicar mesmo, porque a minha intenção primeira era ter a minha turminha de teatro. E logo depois eu conheci o Casarão, e logo depois eu conheci a ASSAMP, De repente já era Natal. Eu estava trabalhando, recolhendo livros para circulação da biblioteca, já com objetivo de incentivar a leitura, de levar conhecimento, ampliar o acervo da biblioteca.Também esse trabalho não parou, eu quero continuar.

Conquista da Comunidade dos Prazeres E a primeira vez que eu vim, que eu tive uma reunião no Iniciativa Jovem, eles me falaram: “Olha, a primeira coisa não é você implantar o seu negócio na comunidade. Você tem que conquistar a comunidade, a comunidade conhecer você , a comunidade tem que acreditar e tem que buscar. Não adianta você dizer: “ Ah. Vou montar uma oficina de teatro.” Se a comunidade nunca te viu, ninguém aparece.” Então, foi um trabalho minucioso. Participei da festa de Natal, do bolo, trouxe umas brincadeiras na quadra, fiz uma arrecadação de livros, fui nas escolas divulgar o curso. Mesmo assim, não é simples. Grafite no Morro Era minha idéia, era ter a minha oficina de teatro, só que quando eu cheguei no Morro dos Prazeres e quando eu entrei dentro da comunidade eu vi os muros grafitados eu disse: “É maravilhoso porque faz parte do que eu quero conhecer, que as pessoas que pintam dessa maneira se expressam de uma maneira maravilhosa.” Então, a intenção de teatro foi ampliando. Foi pra música, foi pra grafite, que hoje em dia é quase um padrinho do projeto - o grafite. Não consigo pensar em Morro dos Prazeres sem grafite.

Essa camisa inclusive, eles fizeram hoje para venda no Arte de Portas Abertas; essa tem air brush, que é também uma idéia do projeto, pra não ficar só na grafite. A gente teve problemas, inclusive com muros que são tombados pelo Patrimônio Histórico, que foram grafitados. Nós trabalhamos, num trabalho de conscientização para não grafitarem em lugares proibidos, e transformar o grafite em gerador de renda. Resolvemos fazer carvão, trabalhar com air bruch,botar essa linguagem nas camisas, vender as camisas e se a gente conseguir que tudo der certo, pelo menos essas camisas sustentem a oficina de grafite, que não pode parar. Tem que continuar. Estamos sem patrocinador. Estamos na fase de captação de recursos, é tudo muito contadinho, batalhado. Oficina de Teatro e Circo A minha parte pessoal é a oficina de teatro que é assim: cheguei numa escola e um aluno falou: “ “Eu quero fazer teatro.”

Eu falei: “ Onde você mora?” “ Eu moro em Morro dos Prazeres” “Então você vai fazer. Pode se inscrever.” Aí ele se inscreveu e atualmente ele trabalha na própria oficina de teatro e também dá oficina de circo e é algo que.. A oficina de Circo é também uma oficina que aconteceu depois da oficina de teatro, porque eu encontrei amigos que vieram de Campo Grande, e os convidei para participarem da oficina de teatro dando um workshop de Malabares, de confecção de Malabares. Então, as crianças faziam as bolinhas e levavam para casa os brinquedos. De repente, tomou uma dimensão dentro do Morro dos Prazeres maravilhosa, porque as crianças levavam os brinquedos pra casa e atraiam outras crianças querendo também o brinquedo.

AVALIAÇÃO DO PROJETO

Sempre que a gente conversa e fala, toma consciência de coisas que a gente nem parou pra pensar. Então já é um desabafo e já é uma maneira de estar presente de uma forma, vamos dizer “equipada?” Mas enfim –uma coisa que eu queria muito falar é da importância do Museu da Pessoa. Quando eu conheci o projeto do Museu da Pessoa, eu falei: “Nossa. Maravilhoso.

Memória da comunidade. Perfeito.” Aí eu procurei a Renata, procurei a Paula, a gente se comunicou por e-mail e falei: “ Paula, que queria ter uma idéia de ter uma parceria com o Museu da Pessoa, pra gente encenar essas histórias no teatro. Então pro ano que vem – esse ano a gente está trabalhando o circo mas pro ano que vem, a gente já tem um projeto que é o trabalho da memória, que é uma coisa mais adiantada, e então a gente quer pegar isso e fazer uma oficina de roteiro e quem sabe interpretar a memória do Morro dos Prazeres, aqui no Casarão, na comunidade, descer pra Lapa e pro bonde... Enfim expandir por toda Santa Teresa. É um sonho e eu espero que com o Museu da Pessoa, com parceria com a Prefeitura, com o Casarão com a ASSAMP, se torne realidade.”

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